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quarta-feira, 10 de junho de 2015

A liberdade inventada

Todos andando em linha reta, e ela não consegue entender. Corações batendo no mesmo ritmo acelerado, e o dela ficando pra trás. Como se nada nesse mundo pudesse deixa-los tristes, eles são invencíveis, e ela assistindo ao fundo. 

Deslocada, discorda do mundo. Discorda da vida padronizada e da falta de vida em tudo isso. Sempre teve medo de acabar ali, disse que não aceitaria uma existência qualquer, mas se pega vivendo por viver. Se pega apenas sobrevivendo. Tempo passando, trazendo com ele medos e inseguranças, o tudo parecendo tão pouco, tão insuficiente e insignificante. 

Ela os vê conversando com um sorriso largo, mas eles não fazem ideia do que estão passando. Dirigem carros rápidos, mas nem ao certo sabem por onde andam. Mas sabem onde querem chegar, quase sempre no mesmo lugar.

Ela queria entender melhor, se encaixar melhor em tudo aquilo. Queria a felicidade recreada de uma vida imposta, ou pelo menos acreditar que sabe o que quer. Em um mundo de teatros e fotografias, ela queria mais tato, mais cheiro, mais abraços de verdade. Ela queria mais verdade. Ou pelo menos entender o sentido disso tudo. 

Aquele sentimento de estar no lugar errado, na hora errada. Aquele sentimento de não caber no espaço que lhe foi dado e que de alguma forma, não a pertence de verdade. Aquela culpa por erros jamais cometidos, ou o descaso por erros culpados. A saudade de coisas que não existem. A vida é bonita, a alma é leve, mas não cabe em pequenos espaços.

Como assistir o mundo do lado de fora, do alto, girando como um moinho desinteressado. Mais um dia, mais um café amargo. Queria sair por ai comendo, rezando e amando. Mundo afora, cara, coragem, fé. Mas como? Ela estava sozinha. Ela e sua liberdade inventada.